Publicado no Nouvel Observateur Hebdo em 12/02/2004 —

Nouvel Observateur: O sucesso estrondoso do livro O Código Da Vinci, de Dan Brown, que vendeu um milhão de cópias na França e ao qual você acaba de dedicar um livro ("O Código Da Vinci: A Investigação", de Robert Laffont (1)), assim como o crescente interesse pela Cabala, astrologia, numerologia ou mesmo o fascínio do público pela Maçonaria e sociedades secretas, revelam uma fantástica paixão pelo esoterismo. Mas o que exatamente colocamos sob esse termo genérico e qual é a origem dessa palavra um tanto enigmática?

Frédéric Lenoir : A palavra esoterismo é, de fato, um termo genérico que abrange coisas muito díspares. Devemos começar distinguindo o adjetivo "esotérico" do substantivo "esoterismo". O adjetivo é anterior a ele e vem do grego "esôtirokos", que significa "ir para dentro". É o oposto de "exoterikos", "para fora". Já encontramos essa dupla noção nas escolas gregas de sabedoria, notadamente em Aristóteles, onde se distingue entre o ensinamento "interior" dado aos discípulos avançados e o ensinamento "exterior" transmitido à multidão. O ensinamento esotérico, portanto, visa os "iniciados". Todas as religiões, portanto, desenvolverão ensinamentos para as massas e ensinamentos para as elites. Bergson fala, a esse respeito, de uma "religião estática" e de uma "religião dinâmica". A religião estática está ligada ao dogma, à moral e ao ritual. Ela visa à massa dos fiéis. A religião dinâmica é o misticismo, o impulso que leva certos indivíduos em direção ao divino. Nesse sentido, podemos dizer que o misticismo é o caminho interior, a dimensão esotérica das grandes tradições religiosas. É a Cabala no Judaísmo, o Sufismo no Islamismo, o grande misticismo cristão de Teresa de Ávila ou Mestre Eckhart, etc. (ver quadros na p. 10).

E o que dizer da própria palavra “esoterismo”?

O substantivo "esoterismo" só foi inventado no século XIX. Surgiu em 1828, sob a pena de um estudioso luterano alsaciano, Jacques Matter, em sua História Crítica do Gnosticismo, e designa uma corrente de pensamento situada fora de uma religião específica. O esoterismo torna-se um mundo em si mesmo, uma nebulosa. Houve milhares de definições de esoterismo. Especialistas como Antoine Faivre ou Jean-Pierre Laurant falam, com razão, do esoterismo como uma "visão" e não como uma doutrina, e tentam identificar suas principais características. Podemos identificar quatro ou cinco. O esoterismo visa, antes de tudo, reunificar o conhecimento presente em todas as tradições filosóficas e religiosas, com a ideia de que, por trás delas, se encontra uma religião primordial da humanidade. O esoterismo, portanto, quase sempre se refere a uma era de ouro em que os seres humanos possuíam conhecimento que foi então difundido pelas diferentes correntes religiosas. Outra característica fundamental: a doutrina das correspondências. Esta doutrina afirma a existência de um continuum entre todas as partes do universo, na pluralidade de seus níveis de realidade, visíveis e invisíveis, do infinitamente pequeno ao infinitamente grande. É esta ideia que fundamenta a prática da Alquimia (ver encarte). Parte do postulado de que a Natureza é um grande organismo vivo atravessado por um fluxo, uma energia espiritual que lhe confere sua beleza e sua unidade. No entanto, somente o pensamento mágico e esotérico pode elucidar os mistérios desta Natureza encantada. Finalmente, o último elemento é o lugar central da imaginação como mediação entre o homem e o mundo. Mais do que através de sua inteligência racional, é através de sua imaginação e pensamento simbólico que o ser humano se conectará às profundezas da realidade. É por isso que os símbolos estão na própria base do esoterismo.

Mas as religiões são cheias de símbolos, então por que procurá-los em outro lugar?

Porque no Ocidente, as religiões perderam gradualmente sua dimensão simbólica! Elas privilegiaram o pensamento lógico, o dogma e as normas em detrimento dos símbolos e da experiência mística. Na história do cristianismo, o século XVI marca uma ruptura fundamental com, por um lado, o nascimento da Reforma Protestante, que constitui uma crítica ao pensamento mítico, e, por outro, a resposta do catolicismo com a Contrarreforma, implementada no Concílio de Trento, que desenvolveu um catecismo, isto é, um conjunto de definições do que deve ser crido. É uma extraordinária fechadura teológica que não deixa mais espaço para o mistério, a experiência ou a imaginação, mas pretende explicar e definir tudo com base na escolástica tomista. Atualmente, ainda não saímos da religião/catecismo. Para a maioria das pessoas, o cristianismo é, antes de tudo, o que se deve crer e o que não se deve crer, o que se deve fazer e o que não se deve fazer. Estamos muito distantes do Evangelho e do sagrado. É por isso que alguns buscam o sagrado dentro das religiões, em movimentos místico-esotéricos, ou fora delas, no esoterismo, ou seja, em correntes paralelas que enfatizam o pensamento simbólico. Hoje, testemunhamos, em níveis muito diferentes, um interesse público por esses dois tipos de caminhos espirituais.

Podemos dizer que um é mais “nobre” que o outro?

Por existir fora das tradições, o esoterismo tem sido capaz de gerar, além de pensamentos muito profundos, delírios sectários e fantasmagorias de todos os tipos. É por essa razão que o esoterismo tem má reputação entre a comunidade intelectual. O caráter esotérico das religiões é, por outro lado, muito menos desacreditado, pois diz respeito a uma "elite" supostamente interessada nos aspectos mais profundos, interiores e, portanto, autênticos da religião. Isso não impede que certos movimentos tradicionais, como a Cabala ou o Sufismo, tenham representantes hoje que se assemelham a gurus e oferecem uma espiritualidade barata – mas às vezes muito cara – que bajula as inclinações mais narcisistas dos indivíduos sob o disfarce de uma espiritualidade de alto nível.

Embora a palavra remonte ao século XIX, costuma-se dizer que Pitágoras foi o fundador do esoterismo. Até onde podemos traçar a história do esoterismo?

Pitágoras foi o primeiro a conceituar a ideia de que existe uma harmonia universal e uma matemática sagrada em ação no universo. Assim, ele lançou as bases para o pensamento esotérico. Mas foi por volta dos séculos II e III d.C., no final da Antiguidade, que o esoterismo realmente emergiu, com o Gnosticismo e o Hermetismo. Segundo os gnósticos (ver quadro), a existência terrena é um castigo terrível, fruto de uma queda original, e somente o conhecimento (gnose), transmitido pela iniciação, permitirá ao homem tomar consciência de sua natureza divina. O Hermetismo, por sua vez, afirma que "como em cima, assim embaixo", e que existem leis de analogia entre a parte e o todo, entre o microcosmo e o macrocosmo. A Astrologia é uma boa ilustração disso. Essa arte, tão antiga quanto as primeiras civilizações, postula que existe uma correlação entre eventos humanos e eventos cósmicos (cometas, eclipses) ou o movimento dos planetas, e oferece uma interpretação simbólica.

São teorias que, até hoje, experimentarão muitos ressurgimentos.

Porque a história do esoterismo opera em ondas sucessivas. Durante o Renascimento, a gnose e o hermetismo foram redescobertos. A redescoberta de textos gregos antigos, e em particular o texto de Poimandres no Corpus Hermeticum, traduzido por Marsilio Ficino em 1471 a pedido de Cosimo de' Medici, causou um choque incrível. Este texto constitui, de fato, uma verdadeira síntese do pensamento antigo, do pitagorismo ao neoplatonismo. Os pensadores renascentistas acreditavam que ele era anterior a todas essas escolas de sabedoria, anterior ao próprio Moisés. Portanto, interpretaram-no como prova da existência de uma tradição primordial que unificava todo o conhecimento que foi posteriormente disperso. Essa tradição foi rastreada até Hermes Trismegisto, uma figura lendária que se dizia estar ligada ao deus egípcio Tot. Um século depois, descobrir-se-ia que, de fato, o Corpus Hermeticum datava do fim da Antiguidade.

Que decepção!

Enorme! Mas este primeiro momento do Renascimento demonstrou o desejo dos primeiros humanistas de reunir as grandes sabedorias da humanidade, partindo da ideia de que todas elas provêm de uma tradição primordial, geralmente localizada no Egito. Para citar apenas um nome, Pico della Mirandola (1463-1494) é esta figura extraordinária que acreditava poder alcançar o conhecimento universal sintetizando os textos da antiguidade, a fé cristã e a Cabala judaica.

Mas, em última análise, foi o pensamento científico e a filosofia do Iluminismo que prevaleceriam.

Com certeza. O esoterismo se tornará então nada mais do que uma contracorrente ao pensamento dominante. Os primeiros pensadores modernos ainda combinam ciência e sagrado, razão e imaginário, incluindo Descartes, que afirma ter recebido seu famoso método em um sonho, que constituirá o paradigma da ciência experimental! Mas o Ocidente está embarcando, inclusive dentro das religiões, em um caminho racionalista e acabamos compartimentando os domínios do sagrado e da razão. A imaginação e o pensamento simbólico não têm mais seu lugar: estamos, portanto, rompendo definitivamente com o mundo dos símbolos herdados do mundo antigo e da Idade Média. Mais profundamente, o homem ocidental está se afastando definitivamente da Natureza, que ele não considera mais mágica ou encantada, mas como um mundo de objetos observáveis e manipuláveis. Ele não é mais um "habitante do mundo" como os antigos o entendiam, mas gradualmente se torna "mestre e possuidor da natureza", como proclama Descartes no capítulo 6 de seu famoso Discurso do Método. Estamos testemunhando uma aceleração acentuada no processo de "desencantamento do mundo", como Max Weber famosamente disse, o que significa que o mundo perdeu "sua aura mágica" e se tornou um mundo frio de objetos. Através do processo de racionalização, o homem está gradualmente se desligando da natureza e não a considerando mais como um organismo vivo cujos fluxos ele pode manipular por meio de magia ou alquimia.

Quando começa esse processo de racionalização e desencantamento do mundo?

Weber não o diz, mas no meu livro As Metamorfoses de Deus (2), apresento a hipótese de que ela começa na transição do Paleolítico para o Neolítico, quando o homem caçador-coletor se estabeleceu em aldeias. Toda uma série de etapas mostra então esse arrancamento progressivo do homem da natureza, que leva ao seu desencanto. Notemos que a elaborada religião do judaico-cristianismo já é em si uma perda da magia. O sacerdote substitui o mago, não buscamos mais os fluidos da natureza nem nos reconciliamos com os espíritos das árvores e dos animais, mas inventamos rituais e observamos uma vida ética para salvar nossas almas. Isso pode parecer insano para um ateu hoje, mas a religião já é um processo de racionalização e é por isso que Marcel Gauchet apoiará a tese muito pertinente segundo a qual a modernidade ocidental nasceu da matriz do cristianismo antes de se voltar contra ele.

Quais são as consequências dessa tomada do poder da razão e desse afastamento do homem da Natureza... de novas ondas de esoterismo e pensamento mágico?

Sim, porque a ideia de um mundo completamente desfigurado e desmistificado é algo difícil de assumir para os seres humanos, que possuem em si uma formidável capacidade imaginativa. O homem se distingue dos animais por sua capacidade de simbolizar coisas, isto é, de associar elementos separados. Isso deu origem à arte, à escrita e à religião. O simples fato de ver sinais, a impressão de que não há acaso, de ser perturbado por sincronicidades, corresponde a essa necessidade fundamental de trazer mistério ao mundo, magia no sentido mais amplo do termo. No século XX, o psicólogo Carl Gustav Jung e o antropólogo Gilbert Durand mostrariam que o que é condescendentemente chamado de "retorno do irracional" é, na verdade, um retorno do reprimido no homem contemporâneo, que precisa de mitos e símbolos. …

Como essa primeira onda de reencantamento se manifestou na Era do Iluminismo?

Primeiro, temos o Iluminismo, um movimento fundado pelo acadêmico sueco Emmanuel Swedenborg com base em suas visões e que influenciou profundamente muitos pensadores, incluindo filósofos do Iluminismo. Era um tipo de religiosidade afetiva que não partia de uma análise do texto, mas de uma emoção interior. E então temos o magnetismo de Franz Mesmer. Durante experimentos científicos com ímãs, Mesmer observou que outra pessoa poderia ser magnetizada ao tocá-los. Ele concluiu que um fluido invisível habita a natureza e que poderia ser manipulado para curar ou mover objetos. Vinte anos antes da Revolução Francesa, a tese alcançou um sucesso colossal. E ainda hoje, tocadores, endireitadores de ossos, magnetizadores e outros curandeiros são uma legião.

Quando surgiram as sociedades secretas que tanto entusiasmam a imaginação do público?

Do início do século XVII, um século antes. Eles destacam a noção fundamental de iniciação. A Ordem Rosacruz é uma das primeiras sociedades secretas da era moderna, precursora da Maçonaria. Trata-se de um texto anônimo que surgiu misteriosamente em 1614 no reino dos Habsburgos e que revela a existência de uma fraternidade de seguidores, encarregada de transmitir a memória de um cavaleiro igualmente misterioso do século XIV, Christian Rosenkreutz, cuja missão era unificar todas as sabedorias da humanidade em preparação para o Juízo Final. O mito Rosacruz é inspirado no dos Templários, esta ordem militar e religiosa fundada para as Cruzadas e cuja regra de vida foi escrita por São Bernardo em 1129. Ele foi perseguido pelo rei da França, Filipe, o Belo, com o apoio do Papa. Na sexta-feira, 13 de outubro de 1307, ocorreu uma das operações policiais mais incríveis de todos os tempos: todos os Templários da França foram presos ao amanhecer em sua comenda, torturados e massacrados. Desde a morte na fogueira do último Grão-Mestre da Ordem, Jacques de Mollay, em 1314, o imaginário ocidental tem sido assombrado por essa crença no conhecimento e nos poderes ocultos dos Templários.

A Maçonaria não foi de fato inspirada pelos Templários?

A Maçonaria é, sem dúvida, mais diretamente inspirada pelos Rosacruzes. Mas sua história é pouco conhecida. Na Idade Média, os pedreiros que construíram catedrais eram aqueles que possuíam conhecimento de símbolos e, portanto, da dimensão esotérica do cristianismo. A partir do início do século XVIII, as catedrais deixaram de ser construídas, o cristianismo tornou-se mais racionalizado e o conhecimento esotérico começou a se perder. A transmissão do conhecimento passou então a ser organizada em círculos de iniciados e, em 1717, foi criada a primeira Grande Loja de Londres. Algumas décadas depois, a Maçonaria se daria uma legitimidade muito antiga e traçaria suas raízes até o Templo de Salomão, por meio dos Templários... que se tornariam os herdeiros dessa sabedoria ancestral durante sua estadia em Jerusalém.

Então as sociedades secretas e a Maçonaria são os grandes movimentos reacionários contra o progresso do racionalismo e uma visão materialista do mundo?

Apenas o começo. A verdadeira revolta viria mais tarde, com a formidável efervescência intelectual, literária e artística do Romantismo alemão, no final do século XVIII e início do século XIX. O Romantismo, nascido da posteridade de Sturm und Drang, foi o primeiro grande movimento coletivo a reencantar o mundo, um desafio em grande escala à concepção materialista, mecanicista e desencantada que prevalecia na civilização ocidental moderna. "A poesia é realidade absoluta", diz Novalis. Ou seja, quanto mais poético algo é, mais verdadeiro ele é. É uma visão extraordinária do mundo! Segundo os românticos, de fato, o homem, o cosmos e o divino estão em estreita relação e constituem uma harmonia, uma totalidade infinita. A busca do homem é alcançar essa unidade experimentando a intensidade dessas relações interna e socialmente. Nesse sentido, a atividade poética e a sensibilidade contribuem para o reencantamento de um mundo privado de seus encantos por uma modernidade comercial. Os românticos reabilitarão mitos e contos populares (os Irmãos Grimm) e a ideia da Alma do Mundo, a anima mundi dos Antigos, inventando uma ciência da Natureza, a Naturphilosophie, que pretende ser uma alternativa à ciência experimental baseada numa concepção unívoca da realidade: existe apenas um nível de realidade, aquele que pode ser observado e manipulado. Encontramos esta filosofia da natureza ecoada em muitos poetas até Baudelaire: "a natureza é um templo onde se erguem pilares vivos..." (Correspondências). Os primeiros românticos faziam parte de sociedades secretas. Depois, voltaram-se para o Oriente, cujas profundezas religiosas e filosóficas começavam a ser descobertas na Europa. Em 1800, Friedrich Schlegel afirmou: "É no Oriente que devemos buscar o Romantismo supremo." » O mesmo cenário do Renascimento é então reproduzido: eles idealizam um Oriente mítico cujos textos sagrados, acreditam, datam de vários milhares de anos e são muito anteriores à Bíblia. A descoberta do Oriente responde ao sonho romântico de uma era de ouro da humanidade, perpetuado até os dias atuais em uma civilização radicalmente diferente da nossa, selvagem, primitiva e livre de todo materialismo. Rapidamente nos desiludiremos à medida que o conhecimento do verdadeiro Oriente prevalecer sobre o sonho orientalista, e os românticos perderão a batalha contra o racionalismo, o materialismo e a mecanização.

E então vem a segunda grande onda do esoterismo, no século XIX, quando a própria palavra aparece.

O esoterismo de meados do século XIX herdou todos os esoterismos anteriores – o esoterismo da Antiguidade, o Renascimento, o século XVIII, o Romântico –, mas destacou-se fortemente de seus predecessores por abraçar a ideia de progresso e por querer conciliar religião e ciência em um único corpo de conhecimento. Esse novo esoterismo assumiria diversas expressões. Por exemplo, o ocultismo, do qual o mago Eliphas Lévi (1810-1875) foi o grande teórico, e que pretendia reunir todas as práticas mágicas e divinatórias, fornecendo uma explicação pseudocientífica. Foi também o nascimento do Espiritismo, em 1848, em uma pequena vila nos Estados Unidos, com as irmãs Fox, que realizaram experimentos de contato com os mortos que se pretendiam quase científicos. Na Europa, o médium francês Allan Kardec desempenhou um papel decisivo ao codificar as práticas do Espiritismo em "O Livro dos Espíritos". Foi ele também quem introduziu a ideia da reencarnação no Ocidente, de acordo com a ideia moderna de progresso: os espíritos reencarnam de corpo em corpo, segundo uma lei universal da evolução de toda a criação. Assim, curiosamente, na segunda metade do século XIX, que marcou o triunfo do cientificismo, a maioria dos grandes criadores, de Victor Hugo a Claude Debussy, incluindo Verlaine e Oscar Wilde, virou o jogo para entrar em contato com os mortos ou se entregar a práticas ocultas.

Outra expressão desse esoterismo "moderno" será a Sociedade Teosófica. Em 8 de setembro de 1875, em Nova York, uma mulher da nobreza russa, Helena Petrovna Blavatsky (1831-1891), fundou a Sociedade Teosófica com o Coronel Henry Steel Olcott (1832-1907). Médium, ela afirmava receber seus ensinamentos de mestres espirituais que conhecera no Tibete, o que é absolutamente falso, visto que foi comprovado que ela nunca havia estado na Terra das Neves. Mas, ao evocar os mestres do Tibete como os últimos guardiões da religião primordial da humanidade, ela deu origem ao mito do "Tibete mágico", povoado por lamas com poderes sobrenaturais. O teosofista Rudolf Steiner, em 1912, deixou a Sociedade e fundou seu próprio movimento, a Antroposofia, que ajudaria a energizar o universo dessa contracultura esotérica. Para a Antroposofia, o mundo e o homem respondem um ao outro por meio de um jogo de correspondências sutis. A genialidade de Steiner consistia em dar aplicações práticas ao seu pensamento na medicina, na economia, na educação... Por exemplo, ele desenvolveu a agricultura biodinâmica.

A partir da Primeira Guerra Mundial, as sociedades esotéricas pareceram se desintegrar?

A primeira metade do século XX foi tão mortífera que todos esses movimentos espiritualistas paralelos foram esmagados. Foi somente na década de 1960 que surgiu uma nova tentativa de reencantar o mundo. É o que se chamou de onda da Nova Era, que decolou na Califórnia e pretendia unir a psicologia ocidental à espiritualidade oriental, buscando conectar o homem ao cosmos. Mas, assim como os esoterismos que a precederam, essa nova religiosidade alternativa está mais voltada para o futuro do que para o passado e o mito do Éden perdido: ela anuncia a entrada na Nova Era de Aquário, o único signo astrológico que representa um homem e não um animal, e que simboliza o advento de uma religião humanista universal. O notável da Nova Era é que, na era da mídia de massa, ela dissemina, muito além dos círculos de iniciados, as ideias do esoterismo na sociedade global: o divino não é mais pessoal, mas identificado com uma espécie de "alma do mundo", uma energia, a famosa "força" de Star Wars; há uma unidade transcendente de religiões que são mais ou menos iguais; o essencial é experimentar o divino em si mesmo; há correspondências universais e seres intermediários, como os anjos ou os espíritos fundamentais da natureza etc.

Essas são ideias poderosas que ainda são atraentes hoje e foram recentemente adotadas pelo cinema e pela literatura.

E com que sucesso! Por que você acha que "O Alquimista", de Paulo Coelho, vendeu em mais de 140 países? Porque reformula o antigo conceito de alma do mundo, vinculando-o ao individualismo moderno. O leitmotiv do livro é que "o universo conspira para realizar nossa lenda pessoal", isto é, nossos desejos mais caros. A maioria dos grandes best-sellers contemporâneos segue a linha esotérica: O Senhor dos Anéis, Harry Potter ou O Código Da Vinci, que sintetiza todas as teses que acabamos de mencionar! O livro de Dan Brown é cativante. Mas também é típico de obras que apresentam o melhor e o pior do esoterismo. O melhor, porque inspira sonhos e restaura uma dimensão simbólica à religião, o pior porque às vezes distorce os símbolos de seu verdadeiro significado e fornece informações completamente errôneas, como mostramos em nosso livro.

Dan Brown nos direciona para um esoterismo um tanto adulterado e, além disso, instila a dúvida em seu leitor para despertar seus velhos reflexos paranoicos, do tipo "a verdade está sendo escondida de nós"...

Na verdade, ela se baseia em uma antiga fonte do esoterismo, que é a teoria da conspiração. O esoterismo, como eu disse, formou-se à margem das Igrejas, que sempre o combateram por seu poder subversivo. Para conter os ataques das Igrejas oficiais, os esoteristas construíram uma posição defensiva que consiste em dizer: as religiões procuram nos sufocar porque guardamos uma verdade secreta que elas não querem revelar a vocês. O argumento é sedutor, muito demagógico, e certamente foi uma das chaves para o sucesso de O Código Da Vinci. Mas não sejamos tão duros, há também algumas verdades no livro, como, por exemplo, a repressão do sagrado feminino pelo cristianismo. E acho que também devemos agradecer ao esoterismo em geral por ter trazido um elemento de feminização do divino. Pois as ideias esotéricas da alma do mundo, da imanência do divino ou de suas emanações são arquétipos tipicamente femininos.

Este é de fato um trabalho salutar, mas essas teorias conspiratórias e irracionais não contêm as sementes de perigos reais?

É claro que algumas delas levam diretamente a uma ideologia tipicamente sectária: nós somos os escolhidos, o pequeno círculo de iniciados que possuem a única verdade, enquanto o resto da humanidade vagueia na ignorância. Outras, que insistem na ideia de uma tradição primordial e criticam todo o progresso moderno, frequentemente têm conotações de extrema direita. Todas são ameaçadas por graves excessos irracionais. Na seita da Ordem do Templo Solar, por exemplo, o excesso assassino foi legitimado em nome dos "mestres invisíveis" dos Templários! Para mentes fracas, há um risco real de desconexão da realidade. Umberto Eco, como bom semiólogo, fez em seus dois primeiros romances a melhor crítica que conheço do delírio interpretativo. Em "O Nome da Rosa", ele denuncia o delírio interpretativo de natureza religiosa: os monges interpretam os crimes cometidos em seu mosteiro como o cumprimento das profecias do Apocalipse. Em "O Pêndulo de Foucauld", ele retrata a loucura esotérica.

Podemos, portanto, ver o retorno (ou melhor, a permanência) do esoterismo em nossas sociedades modernas como um sinal preocupante da necessidade da magia e do irracional. Podemos também vê-lo como uma tentativa de reequilibrar, no homem ocidental moderno, suas funções imaginativas e racionais, as polaridades lógicas e intuitivas de seu cérebro. Não deveríamos admitir de uma vez por todas, como Edgar Morin vem nos lembrando constantemente há quarenta anos, que o ser humano é tanto sapiens quanto demens? Que ele precisa, para viver uma vida plenamente humana, de razão tanto quanto de amor e emoção, de conhecimento científico tanto quanto de mitos? Em suma, de levar uma existência poética.

Entrevista por Marie Lemonnier