Publicado na revista Psychologies em janeiro de 2006 —
O filme "Maria", de Abel Ferrara, tem suscitado discussões e questionamentos em nossa equipe editorial. Crenças da infância, conversões adultas... o que é essa fé que toca a alguns e deixa outros indiferentes? Frédéric Lenoir, filósofo das religiões, lança luz sobre esse chamado à transcendência.
Psicologia: Você assistiu ao filme de Abel Ferrara conosco. O que o inspirou?
Frédéric Lenoir: Este filme me interessou, mas também me emocionou, porque explora, de forma muito sensível, diferentes dimensões da fé religiosa. E, desde já, quero fazer uma distinção que me parece essencial, entre fé e fé religiosa. Todos nós temos uma forma de "fé", isto é, aderimos visceralmente, de forma mais emocional do que racional, a um ideal, a uma pessoa, a um valor, que é a força motriz da nossa existência. Eu definiria essa fé fundamental como uma mistura de crença, confiança amorosa e esperança. Começa com o bebê, que tem "fé" total em seus pais. É essa adesão de todo o seu ser às pessoas em quem acredita que lhe permite abandonar-se e crescer. A partir dessa primeira experiência, o homem conservará alguma forma de fé ao longo da vida. Isso pode obviamente ser sobre Deus, mas para muitas pessoas, não tem uma conotação religiosa: pode ser a fé em um ideal, no homem, na vida... Ao longo do século XIX, as pessoas que abandonaram as igrejas acreditavam no progresso, e sua fé era uma força motriz da civilização. Até recentemente, as pessoas tinham fé em sua terra natal e podiam morrer por ela. Para progredir na vida, todos precisam, com maior ou menor intensidade, ter fé em algo ou alguém que os transcende. A fé religiosa é simplesmente a transposição dessa força motriz existencial para um ser superior ou uma ordem sobrenatural.
Para alguns, a transposição é radical! Maria, no filme, é tomada por uma fé tórrida, que a leva a mudar de vida...
Sim, esta atriz ficará totalmente fascinada por seu papel como Maria Madalena. Através da identificação, sua fé nascente a leva a romper com todos os seus marcos e se estabelecer em Jerusalém. Através dela, Ferrara explora de certa forma a figura do místico, aquele que se deixa levar por uma experiência pessoal e radical, um encontro com o divino. Além disso, o filme mostra claramente que a personagem Maria vive uma experiência paradoxal, estruturante e desestruturante, luminosa e caótica. Mas essa experiência é sempre limítrofe, e a linha entre a loucura e o misticismo é muito tênue. Essa experiência pode assustar aqueles que, por sua vez, vivem a fé como uma garantia e uma necessidade de certeza.
Em "As Metamorfoses de Deus" (Hachette, "Pluriel", 2005), você aborda precisamente a descoberta pessoal da fé religiosa entre um número cada vez maior de nossos contemporâneos...
Por muito tempo, essa fé foi moldada por tradições e instituições familiares. Nós a "herdamos" ao nascer em uma família judaica, muçulmana, hindu, cristã etc. Trata-se, portanto, de uma adesão quase natural a crenças e rituais sobrenaturais aos quais aderimos sem questionar. Mesmo hoje, esse modelo ainda domina na maior parte do mundo. Mas na Europa, o continente mais secularizado do planeta e, portanto, o mais distante da religião, ouvimos cada vez mais pessoas dizerem: "Reencontrei minha fé depois de perdê-la na adolescência". O sujeito religioso moderno pretende escolher "sua" religião. Alguns retornam à sua religião original, mas com um espírito crítico: mantêm certos elementos, descartam outros; outros se convertem a uma espiritualidade diferente que lhes diz mais respeito.
Ted, outro personagem do filme, encontra a fé após uma provação. Isso é comum?
Sim, é uma experiência comum. Quando uma doença nos ataca repentinamente, um ente querido morre ou somos tomados pela ansiedade, entramos em uma igreja, rezamos e nos maravilhamos. Mas a fé em Deus também pode ser despertada por um acontecimento positivo: de repente nos sentimos unidos, temos uma sensação de realização, somos tocados pela beleza de uma paisagem ou por um encontro romântico. Experimentamos então um imenso sentimento de gratidão pelo Absoluto.
Após o encontro com Deus, Mary e Ted mudam radicalmente. A fé sempre implica uma transformação?
Para muitos, de fato, a descoberta da fé religiosa é acompanhada por uma reviravolta, o que em grego se chama metanoia, uma "virada" do ser. Mudam a perspectiva sobre si mesmos e sobre a vida. Acima de tudo, reorientam seus desejos. Ted percebe que, no fundo, queria mais estar com a esposa do que ter sucesso profissional. Mas ele concentrou tudo no trabalho e, portanto, perdeu o foco. A conversão leva à reidentificação do verdadeiro desejo... A fé está sempre ligada aos nossos desejos mais profundos. Se digo que tenho fé em Deus, é porque desejo de todo o coração que Ele exista. Se acredito na vida eterna, é porque desejo que haja vida após a morte, e não o nada. Essa, para mim, é a diferença entre "fé" e "crença": a primeira é existencial, toma conta de todo o ser, é emocional. Já se eu disser: "Acredito em extraterrestres", isso não muda a minha vida em nada.
Mas se é fruto de um desejo, a fé em Deus ou na imortalidade não é uma ilusão?
Freud estava convencido disso. Como mencionamos no início desta entrevista, a criança tem fé, uma confiança inata nos pais. Mas ela rapidamente perceberá que eles não são todo-poderosos e não podem protegê-la de todos os perigos que a ameaçam. Ela então sente o que Freud chama de "desânimo", um profundo desânimo. Em vez de cair em psicose, ela sobreviverá acreditando inconscientemente em forças sobrenaturais benevolentes. Para Freud, há, portanto, em cada homem uma crença religiosa latente, que pode posteriormente ser mais ou menos ativada dependendo das circunstâncias da vida. Não sei se sua teoria é bem fundamentada ou não. Em última análise, parece-me secundária. Se uma pessoa extrai felicidade, inspiração, generosidade e coragem da fé em Deus, mesmo que se revele que sua fé seja ilusória, tanto melhor! Para mim, o critério de uma vida bem-sucedida é o significado e o amor. O essencial não é saber se se age em nome de uma fé religiosa, ou de uma fé secular ou da razão, mas sim perguntar-se se a nossa vida tem sentido ou não, se nos abre ou não à felicidade da comunhão com os outros. Portanto, na minha opinião, não importa se alguém acredita em Deus ou é completamente ateu.
Publicado na revista Psychologies em janeiro de 2006