Entrevista publicada no Le Figaro Madame
Comentários coletados por Guillemette de Sairigne —

Guillemette de Sairigné. – Tudo no século passado parecia anunciar a morte de Deus…

Frédéric Lenoir. – Para os grandes sistemas de pensamento nascidos no século XIX, a questão é clara: religião e mundo moderno são incompatíveis. Denunciada como alienação intelectual por Auguste Comte ou psicológica por Freud, e como fruto da alienação socioeconômica por Marx, a religião constitui um grande obstáculo ao progresso individual e social. O declínio da prática religiosa e a crise das vocações poderiam ter dado razão aos profetas da morte de Deus, se não tivéssemos observado, ao mesmo tempo, uma permanência da Fé.

Como isso se traduz?

Na França, os católicos praticantes regulares não ultrapassam 10%. Mas eles estão altamente mobilizados. As pessoas não vão mais à missa para se sacrificar a um rito; há uma fé mais profunda entre eles, um desejo de visibilidade, daí as grandes concentrações em torno do Papa por ocasião da JMJ. E então, observamos que, mesmo sem praticar, 67% dos europeus – e até 93% dos americanos! – afirmam acreditar em Deus. Entre a fé militante e o ateísmo, a maioria das pessoas segue o "fora de pista", o nomadismo espiritual.

Um desenvolvimento que se encaixa bem no individualismo contemporâneo?

É óbvio. Com o desenvolvimento do pensamento crítico e do livre-arbítrio que surgiu no final da Idade Média e levou à revolução iluminista, como podemos imaginar que indivíduos que cada vez mais faziam suas próprias escolhas emocionais, intelectuais e artísticas permitissem que sua religião lhes fosse imposta? Como resultado, eles podem mudá-la, daí o fenômeno relativamente recente das conversões; vemos isso com ocidentais seduzidos pelo budismo ou pelo islamismo, ou com o crescimento constante do número de catecúmenos adultos nas igrejas. Mesmo que permaneçamos dentro da nossa religião, queremos resgatar a nossa fé.

A fé do carvoeiro é antiquada?

Pode ser o resultado de uma abordagem pessoal. Mas estamos testemunhando principalmente o desenvolvimento de uma religião à la carte, com as pessoas escolhendo o que lhes convém aqui e ali, enquanto se distanciam da moral católica. Podemos, portanto, imaginar uma mulher que vai à missa no domingo, mas toma pílula, talvez tenha feito um aborto uma vez na vida, recomende que seus filhos adultos usem preservativos; embora permaneça sensível à mensagem de Cristo, ela pode muito bem ler livros esotéricos, acreditar em reencarnação...

Como um terço dos católicos, apesar da desaprovação da Igreja!

A vida eterna é tão abstrata! Para combater o medo do nada, é mais fácil imaginar que retornaremos à Terra para purgar o que não pôde ser purgado (o que, aliás, parece a um budista culto não um consolo, mas a própria imagem do inferno na Terra, já que seu sonho é encerrar o ciclo de reencarnações para alcançar o nirvana!). Em ambas as teorias, há também a ideia de que somos responsáveis por nossas ações, que estas influenciam nosso futuro, mas enquanto a ideia de Reencarnação está ligada a uma retribuição implacável pelas ações, a Ressurreição introduz a dimensão da misericórdia divina.

No entanto, para realizar essas “consertações espirituais”, é preciso estar ciente de outras formas de espiritualidade...

É aqui que entra a segunda evolução específica do nosso tempo: a globalização. Há uma conjunção de oferta e procura: no momento em que o indivíduo se ocupa em construir a sua própria religião, todas as espiritualidades do mundo lhe são oferecidas de bandeja. Qualquer um pode encontrar um mestre espiritual que o inicie no misticismo muçulmano ou lhe revele os segredos da Cabala, um centro zen onde possa praticar meditação... A vantagem é a de uma maior tolerância: recordemos que, até ao Concílio Vaticano II, considerava-se que fora da Igreja não havia salvação! Apenas 10% dos ocidentais hoje acreditam que existe apenas uma religião verdadeira.

O risco, por outro lado, é cair no mais terrível sincretismo!

Este é o grande perigo da nossa época: a confusão. O perigo de inventar uma espécie de mistura metafísica na qual nada tem sabor. Se nos contentarmos em acumular reuniões, cursos de formação, leituras, permanecendo superficiais, corremos o risco de andar em círculos. Cabe ao homem moderno ter profundidade e discernimento suficientes para priorizar essas crenças e práticas, de modo que o ajudem a trilhar um verdadeiro caminho espiritual. Independentemente de se preocupar ou não em permanecer dentro da estrutura de uma religião.

Alguns crentes permanecerão fiéis às religiões estabelecidas...

Observamos até poderosos fermentos de renovação; as estruturas mais conservadoras são, por vezes, mestres no uso dos meios modernos de organização e comunicação; isso é muito claro para os dois principais fundamentalismos do nosso tempo: o protestante e o muçulmano. O pentecostalismo deve seu sucesso colossal ao fato de dar primazia às emoções, defender a ideia de que já se pode experimentar no próprio corpo, nesta terra, o encontro com Deus, a graça da salvação. Todos esses "nascidos de novo" revigorados pelo Espírito Santo – há cerca de duzentos milhões deles na América do Sul, África, China e, claro, nos Estados Unidos, incluindo George Bush e seus principais colaboradores (aos quais poderíamos associar os movimentos carismáticos católicos que deles surgiram diretamente) – permanecem dentro de uma referência cristã, têm uma moral rigorosa, uma fé viva. Mas, como o movimento é bastante pobre em termos de doutrina, pode-se temer que se misture com cultos locais, com o resultado de que a mensagem cristã será muito empobrecida. E depois há esse lado proselitista que ancora os americanos na ideia de que seu país é chamado a desempenhar um papel messiânico, a levar ao mundo inteiro uma fé, valores, virtudes, daí sua total incompreensão diante da recusa dos franceses em segui-los em sua luta contra o Mal, ou seja, o fundamentalismo muçulmano...

Sobre pertencer a seitas, você parece, em seu livro*, menos preocupado…

O perigo do sectarismo existe, mas me parece completamente superestimado pela mídia. Criamos toda uma mitologia de doutrinação, enquanto a maioria das pessoas entra e sai de seitas quando bem entende, passando em média apenas dois ou três anos nelas. A raiz do problema é essa necessidade psicológica que muitos de nossos contemporâneos, que perderam o rumo, têm de se juntar a um grupo que lhes diga onde está a Verdade.

Não falta ambição em definir, como você faz, a dimensão religiosa do homem por "sua consciência de diferentes níveis de realidade"?

Eu acrescentaria: "e pela crença em uma realidade suprassensível". Minha perspectiva é antropológica: tento ver o que há em comum entre o homem pré-histórico que flore túmulos, o construtor de catedrais na Idade Média, o monge hindu em seu ashram e o europeu de hoje que constrói sua própria pequena espiritualidade. Para mim, não se trata principalmente de compartilhar uma religião com um ideal coletivo, mesmo que isso ainda seja o caso para muitas pessoas, mas de acreditar em mundos invisíveis, em uma vida após a morte. Nesse sentido, recorrer a medicinas alternativas, técnicas de desenvolvimento pessoal, acreditar em anjos ou extraterrestres, ser um leitor fervoroso de "O Alquimista" ou "O Senhor dos Anéis" ou mesmo "Harry Potter" — sim, isso é, de certa forma, ser religioso.

Não muito tempo atrás, o físico Georges Charpak denunciou o gosto da nossa sociedade pelo irracional.

Durante dois séculos, na Europa, houve uma aliança entre Ciência e Religião para domesticar o irracional: para os materialistas, só é válido o que pode ser experimentado pelo método científico; para os católicos, a única parte do irracional aceita é aquela que se expressa na fé em Deus. Mas o homem também é irracional! A sexualidade é irracional, assim como a arte, e as emoções! O senso do sagrado, a impressão de estar conectado a algo universal, transcendente, o homem pode facilmente experimentá-lo diante de um rosto ou de um pôr do sol...

Você fala em "reencantar o mundo". Mas o engano nunca está longe!

É verdade. Quando somos movidos por nossas emoções, podemos ser manipulados, e é por isso que devemos ter o cuidado de manter o pensamento crítico para nos proteger de falsos profetas. Também podemos nos iludir, confundir o mágico com o sagrado. Mas isso não nos impede de reagir contra o materialismo contemporâneo, contra um mundo mecanizado, governado pela tecnologia e pelo dinheiro. Esse é o lado positivo de toda essa religiosidade alternativa, do tipo Nova Era, quaisquer que sejam seus excessos.

Você também fala sobre as metamorfoses das representações de Deus...

O homem de hoje precisa de um Deus menos distante, mais interior. Um Deus menos personalizado também. Ele prontamente o equipara a uma força, a uma energia. Um Deus finalmente mais feminino, não mais o bicho-papão que impõe sua Lei, mas um Deus de misericórdia, ternura e amor.

Nessa reestruturação do cenário religioso, o catolicismo tem, portanto, seu lugar...

Sim, se ele retornar às suas fontes evangélicas, abandonar o fardo da moralidade que induz à culpa para redescobrir o vínculo direto com Jesus. Se ele também aceitar ter posições mais abertas sobre questões candentes da atualidade, como o casamento entre padres. E então, ele não poderá manter indefinidamente a posição dominante que é sua hoje, defendendo a convicção – cara a João Paulo II – de que ele detém a Verdade suprema. Devemos acolher a ideia de que o Verbo de Deus se encarnou em um momento da História na pessoa de Jesus, mas que ele poderia ter se manifestado de outras formas, em outras épocas e em outros países.

Será que foi porque você mesmo redescobriu os Evangelhos aos dezenove anos, depois de estudar espiritualidades orientais?

Estou realmente convencido de que caminhamos, a longo prazo, para uma certa interpenetração do cristianismo e do budismo, para uma síntese entre, por um lado, o sentido da pessoa, que é a mensagem central de Jesus, para quem cada ser humano é único, e, por outro, este trabalho de interiorização caro ao Buda, sem o qual não há verdadeira fé pessoal, nem crescimento espiritual, este trabalho que, afastando o nosso lado obscuro, nos convida a libertar a bondade e a compaixão que habitam o coração de cada homem.

Entrevista publicada no Le Figaro Madame