Publicado no Nouvel Observateur de 14 de agosto de 2008 —

Milhares de franceses estão se voltando para o " Buda vivo " que nos visita. O especialista em religião Frédéric Lenoir decifra o fascínio exercido por este combatente pacífico
.

Le Nouvel Observateur. – Você dedicou vários livros ao budismo e ao Tibete e se encontrou com o Dalai Lama com frequência. Você acha que a popularidade dele é uma moda passageira?

Frédéric Lenoir. – Essa popularidade, que se mantém inalterada há vinte anos, demonstra um profundo interesse pela pessoa e sua mensagem. O Dalai Lama alcança pessoas de diversas categorias sociais, de burgueses a empregados e aposentados. Ele é percebido como um homem simples, engraçado e espontâneo. E, ao mesmo tempo, sabemos que ele carrega consigo todo o sofrimento de seu povo. Isso o torna particularmente tocante.

NÃO – Parece resolver uma contradição: como lutar sem perder a serenidade…

F. Lenoir. – Sim, ao resistir com um sorriso nos lábios, ele reconcilia o que consideramos opostos. E essa alegria de viver misturada à tragédia humana dá grande peso à sua mensagem budista, já que ele é a testemunha viva da autenticidade de suas palavras.

NÃO Mas por que ele é amado por pessoas comuns, que não estão particularmente interessadas no Tibete ou no Budismo?

F. Lenoir. – Porque ele é comum em seu comportamento, apesar de um destino extraordinário. Ele não se apresenta como um grande erudito. Fala em termos muito simples, é sempre aberto, acolhedor, descontraído, rindo à menor coisa. Ele frequentemente responde que não sabe, o que é extremamente raro entre homens de sua estatura.

NÃO – E essa aura de santidade, de autoridade moral?

F. Lenoir. – Apesar de tudo o que está acontecendo entre a China e o Tibete, ele nunca mudou de rumo em seu discurso de benevolência e não violência. Ele não é nem azedo nem amargo. Ele insiste que ninguém fale mal dos chineses. Dizemos a nós mesmos que esse homem é movido por uma força extraordinária. Onde ele a encontra? Provavelmente em suas práticas espirituais, em um exercício de autorreflexão digno dos maiores filósofos da Antiguidade. Estamos diante de um Marco Aurélio, um Epicteto. O Dalai Lama começa seus dias com quatro horas de meditação. É isso, sem dúvida, que lhe confere a distância emocional dos sábios. E há essa gentileza que se lê em seu rosto quando o vemos na televisão ou em fotografias. Eu mesmo testemunhei atos de atenção gratuita a pessoas que nada tinham a lhe oferecer, longe de microfones e câmeras.

NÃO – Mas não responde antes à necessidade de mudança de cenário das nossas sociedades cansadas, em busca de um esoterismo fácil?

F. Lenoir. – Certamente, há várias motivações para a popularidade do Dalai Lama, que podem até se sobrepor para alguns. Há, certamente, uma curiosidade superficial por uma sabedoria exótica que proporcione uma mudança agradável em relação às nossas próprias tradições. Mas há também uma busca mais profunda por uma resposta ao duplo colapso das grandes ideologias religiosas e políticas. Nossas sociedades estão vivenciando uma grave crise das religiões tradicionais. A crença na política que o sucedeu, por sua vez, foi desacreditada nos últimos trinta anos. Esses sucessivos desencantos geraram uma necessidade coletiva, um questionamento sobre o sentido a ser dado à existência.

NÃO – Mas que significado o Dalai Lama pode trazer para aqueles decepcionados com o cristianismo ou o comunismo?

F. Lenoir – Ele reconhece que iniciativas coletivas, mesmo aquelas que defendem um ideal magnífico, podem ser exploradas por estratégias de dominação e cair na violência, a menos que se baseiem na transformação individual. Ele afirma: todas as revoluções sociais ou políticas serão inúteis se cada um não fizer a sua própria revolução interior. Assim, ele adere à grande corrente do individualismo contemporâneo ao afirmar que o que importa acima de tudo é o trabalho do indivíduo sobre si mesmo.

NÃO Estamos longe do ensinamento budista clássico .

F. Lenoir. – É verdade que o Dalai Lama mudou seu discurso. Durante muito tempo, por meio de seus livros e de suas grandes palestras públicas, ele transmitiu ensinamentos budistas tradicionais, às vezes muito complexos. Em meados da década de 1990, percebeu que seus ouvintes não tinham a formação necessária para compreender o budismo, o que gerou muitos mal-entendidos. Decidiu transmitir valores simples, centrados em questões eternas como a felicidade e o autocontrole. Como alguém pode ser responsável pela própria vida de forma a ser feliz e, ao mesmo tempo, fazer os outros felizes? Essa mensagem, que ecoa a sabedoria ancestral, está na encruzilhada entre o individual e o coletivo, por meio de uma ética da responsabilidade – essa é a sua palavra-chave. Somos responsáveis pela humanidade. Daí o interesse que ele também desenvolveu pela ecologia. Ele está na vanguarda dessa luta em nome da concepção budista da interdependência dos fenômenos, segundo a qual toda ação local tem consequências gerais, planetárias.

NÃO – O fato é que, para muitos observadores, o sucesso do Dalai Lama pode ser explicado, antes de tudo, pelo declínio de nossas religiões tradicionais, por ele estar prosperando sobre as ruínas do judaico-cristianismo. O que o senhor acha? F. Lenoir. – O que o senhor diz se aplica ao sucesso do budismo no Ocidente em geral. Mas o Dalai Lama alcança muito mais pessoas do que a franja que se converte ou se interessa pelo budismo. E, como figura religiosa, ele inspira grande apoio porque apresenta uma imagem excepcional de tolerância. Ele responde à intolerância que tem sido o grande fracasso das religiões monoteístas por séculos. Ao concordar em dialogar com todos, ao se libertar de qualquer discurso sectário, ele aparece como uma espécie de antipapa, como um sábio perfeitamente tolerante que, no entanto, não renuncia às suas convicções. Ele afirma que existem caminhos para a sabedoria em todas as religiões. E, portanto, repete incansavelmente, não devemos mudar de religião, mas cada pessoa deve encontrar na sua as sementes da espiritualidade presentes em todos os lugares. Seu discurso rompe com o proselitismo ativo de outros líderes religiosos.

NÃO – Incluindo a dos lamas tibetanos, porque estamos testemunhando uma rápida expansão e institucionalização do budismo tibetano em nossas latitudes…

F. Lenoir. – É verdade, e não devemos nos deixar enganar. De fato, existe uma lacuna entre o discurso antiproselitismo do Dalai Lama — que é sincero, como já vi muitas vezes — e a significativa expansão do budismo tibetano no Ocidente desde a década de 1970. A maioria dos lamas, tibetanos e ocidentais, que administram os centros recém-criados, busca, na verdade, recrutar pessoas por meio de publicidade, marketing e uma certa sedução. De fato, há proselitismo em campo, mesmo que não seja agressivo e permaneça bem abaixo do proselitismo, por exemplo, dos pentecostais.

NÃO – Você diria que os líderes religiosos tibetanos têm uma estratégia para conquistar as elites ocidentais? Você escreve em seu livro que tal decisão foi tomada após a perda do Tibete…

F. Lenoir. – Se os chineses não tivessem invadido o Tibete, os lamas jamais teriam deixado seu país. Após cerca de quinze anos de exílio, decidiram usar a carta ocidental para preservar sua cultura. Ocidentais apaixonados pelo budismo – especialmente os franceses, aliás – os procuraram na Índia e os persuadiram a fundar centros na Europa e na América. Ofereceram-lhes os meios para ensinar a língua, transmitir os textos e manter viva sua cultura. Foi uma oportunidade histórica. A partir daquele momento, houve, de fato, uma estratégia geral por parte do Dalai Lama e dos tibetanos, de aceitar todos os pedidos de fundação de centros no Ocidente, com o objetivo de preservar sua cultura e alcançar a opinião ocidental sobre a causa do Tibete. Obtiveram, assim, o apoio da opinião pública – contra governos que se preocupam em não agir de forma eficaz, particularmente em organismos internacionais. Essa simpatia geral contribuiu, sem dúvida, para que o Tibete ainda esteja vivo.

NÃO – Por que o budismo tibetano, entre todas as escolas de budismo, é o mais bem-sucedido, particularmente na França?

F. Lenoir – O Tibete é um dos mitos ocidentais mais antigos. Desde a Idade Média, Marco Polo e missionários trouxeram de volta contos fabulosos de lamas dotados de poderes mágicos. Essa imagem permeou a consciência ocidental até os dias atuais. Basta reler "Tintim no Tibete" para perceber isso! A isso se soma uma relação especial entre o Tibete e a França. Muitos exploradores escreveram histórias vibrantes, como o Padre Hue no final do século XIX, Alexandra David-Néel, os filmes de Arnaud Desjardins, toda uma linhagem que despertou esse interesse na França. Devemos também levar em conta a esquizofrenia francesa, tanto cartesiana quanto católica, à qual o budismo tibetano responde perfeitamente. Como todos os budismos, é pragmático e racional – é preciso experimentar as coisas antes de acreditar; mas o budismo tibetano é também o mais "religioso" e o mais "mágico", atribuindo grande importância a rituais, santos, clero e imagens sagradas. Há bodhisattvas, grandes cerimônias com música e incenso, e mosteiros. Os franceses — assim como os espanhóis e os italianos — redescobrem, portanto, o catolicismo de sua infância sob uma nova forma. Isso cria vínculos inconscientes. Notamos também que em países protestantes anglo-saxões, como Alemanha e Inglaterra, o Zen, sóbrio e austero, é mais bem-sucedido.

Entrevista por Ursula Gauthier,
Le Nouvel Observateur