O Mundo das Religiões, Setembro-Outubro de 2007 —
Fiquei um pouco surpreso com a avalanche de críticas, inclusive dentro da Igreja, que a decisão do Papa de restabelecer a Missa em Latim provocou. Nos últimos dois anos, já apontei a política ultrarreacionária de Bento XVI em todas as áreas o suficiente para resistir ao prazer de correr em seu auxílio! O Papa quer, portanto, trazer
Dom Lefebvre, é claro. Mas não há oportunismo de sua parte, pois o Cardeal Ratzinger tem constantemente recordado, há mais de trinta anos, seu desconforto com a implementação da reforma litúrgica do Vaticano II e seu desejo de devolver aos fiéis a escolha entre o novo e o antigo rito herdado do Papa Pio V (que a promulgou em 1570). Isso será feito a partir de 14 de setembro. Por que reclamar de uma medida que oferece, algo muito raro, genuína liberdade de escolha aos fiéis? Uma vez que o antigo ritual foi despojado de suas frases antijudaicas que testemunhavam o antigo antijudaísmo cristão que durou até o Concílio Vaticano II, realmente não vejo como a Missa de Pio V, celebrada de costas para os fiéis e em latim, constituiria um terrível passo para trás para a Igreja.
Três experiências pessoais, ao contrário, me convencem da justeza da decisão do Papa. Fiquei impressionado quando fui a Taizé e descobri que milhares de jovens de todo o mundo cantavam em latim! O Irmão Roger me explicou o motivo: dada a diversidade de línguas faladas, o latim havia se consolidado como a língua litúrgica que podia ser praticada por todos. Uma experiência semelhante em Calcutá, numa capela das Missionárias da Caridade de Madre Teresa, durante a missa celebrada para os muitos voluntários vindos de todos os países: quase todos puderam participar da liturgia, porque ela era celebrada em latim e, visivelmente, as memórias de infância dos participantes ainda estavam vivas. Latim, a língua litúrgica universal da Igreja Católica, ao lado das missas em línguas vernáculas, por que não? A última experiência, da pesquisa sociológica que realizei há cerca de dez anos entre dezenas de seguidores franceses do budismo tibetano: fiquei muito surpreso ao ouvir de vários deles que apreciavam os ritos tibetanos porque eram realizados em uma língua que não era sua língua materna! Disseram-me que achavam a missa dominical em francês pobre e desprovida de mistério, enquanto sentiam o sagrado nas práticas tibetanas. O tibetano servia como latim. Quem sabe: Bento XVI pode não trazer apenas os fundamentalistas de volta ao seio da Igreja. (1).
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Fundado em setembro de 2003, o Le Monde des Religions está comemorando seu quarto aniversário. Cabe a vocês avaliar a qualidade do jornal. Mas os resultados financeiros são extremamente positivos. A tiragem média da revista foi de 42.000 exemplares em 2004. Saltou para 57.000 exemplares em 2005 e continuou seu forte crescimento, com uma tiragem média de 66.000 exemplares em 2006. Segundo a revista Stratégies, o Le Monde des Religions teve o terceiro maior crescimento na imprensa francesa em 2006. Esta é uma oportunidade para agradecer a vocês, caros leitores, bem como a todos aqueles que tornam a revista possível, e destacar a reformulação das páginas do Fórum, que estão se tornando mais dinâmicas. Gostaria também de agradecer a Jean-Marie Colombani, que deixou o cargo de diretor do grupo La Vie-Le Monde neste verão. Sem ele, o Le Monde des Religions jamais teria visto a luz do dia. Quando me contratou como editor-chefe, ele me disse o quanto lhe parecia importante que houvesse um periódico que tratasse da religião de forma resolutamente secular. Ele continuou a nos apoiar quando o periódico ainda estava em déficit e sempre nos deu total liberdade em nossas escolhas editoriais.
(1) Ver o debate p. 17.